Me diga por onde pisa e eu te direi quão saudável é seu intestino
Sumário
Me diga por onde pisa e eu te direi quão saudável é seu intestino
A conexão entre intestino e cérebro já é bem conhecida das pessoas desde a publicação de livros como “O segundo cérebro” ou “O cérebro desconhecido” (anos 2000 e 2002 respectivamente), mas a grande novidade que vem sendo comentada no meio científico é a conexão entre solo e intestino. Você não leu errado, é solo mesmo!
Mas vamos começar com o intestino, esse órgão fantástico!
O intestino humano, além das funções básicas de absorção de nutrientes e água e eliminação de toxinas ou substâncias indesejadas, serve de morada para trilhões de micro-organismos, como bactérias, fungos, vírus, protozoários e archeas, que juntos são conhecidos como microbioma.
O microbioma vem sendo intensamente estudado desde 2007, quando o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos iniciou a empreitada para desvendar os mistérios por trás desses seres minúsculos que ocupam cada espacinho das vilosidades do nosso intestino, que aliás, conferem uma área de mais de 250 metros ao órgão.
Os cientistas descobriram que mais do que genética, idade ou sexo, a alimentação e exposição ambiental despontam como fatores principais na modulação intestinal, ou seja, o que determina seu equilíbrio ou desequilíbrio.
O que comemos, então, afeta a saúde do nosso microbioma e este, uma vez saudável, é capaz de prestar os seus serviços na digestão dos alimentos, síntese de aminoácidos e vitaminas (inclusive a B12), fortalecimento da imunidade, proteção contra ataques de micro-organismos patogênicos e doenças como as infecções intestinais, esclerose múltipla, diabetes, doenças do coração, autismo e até depressão e ansiedade.
O solo é um compartimento vivo e heterogêneo, formado por microhabitats com uma imensa variabilidade química, física e biológica e extremamente vulnerável à ação humana.
Um dos indicadores da qualidade do solo é a presença de uma comunidade microbiana diversa, estável e ativa, que desempenha um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento das plantas, através de processos como fixação de nitrogênio, síntese de hormônios de crescimento, reciclagem de nutrientes da matéria vegetal decomposta, aumento da tolerância da planta ao estresse e proteção contra invasores. Isso não é novidade não é mesmo? Solo saudável faz crescer uma planta saudável.
O que é muito interessante é que a ciência está aceitando a ideia de que os micro-organismos que estão no solo e que passam a fazer parte do microbioma da planta conforme ela vai crescendo, são capazes de chegar ativos ao nosso intestino e lá crescer e enriquecer as comunidades microbianas pré-existentes.
Isso é fantástico porque dá a agricultura orgânica mais força e valor!
Muitos estudos sobre conteúdo nutricional de alimentos orgânicos já foram publicado e os resultados mostraram que não havia diferença significativa no teor de vitaminas e minerais. Alguns estudos indicaram que alimentos orgânicos apresentavam mais compostos bioativos que alimentos convencionais, mas nada que justificasse a troca (a partir dessa visão reducionista dos nutrientes).
Quando pensamos nos benefícios incontestáveis da agricultura orgânica para quem a pratica (que deixa de ter conato com substâncias químicas altamente tóxicas e para o meio ambiente, que afinal, caso alguém tenha esquecido, é quem sustenta o solo que pisamos e através do qual escorre a água que tomamos).
Bom, deixando a indignação da escritora de lado e voltando para o tema deste artigo, podemos, a partir destes achados e na expectativa dos que virão, pensar em um futuro próspero para a agricultura orgânica, que já foi atacada por alguns, sendo chamada de elitista e desnecessária.
Pensar que um solo equilibrado, rico em nutrientes e micro-organismos, permite que uma planta cresça forte e resistente levando todos esses benefícios ao consumidor, seja esse uma vaca (aquela feliz que não come milho para inflamar seu rúmem) ou um ser humano, é fantástico!
É claro que estamos falando aqui do consumo de vegetais crus, especialmente aqueles que ficam próximos do solo (sim, precisamos voltar a pisar descalço na terra, tocá-la sem luvas, comer aquela cenoura ou pepino direto na horta, orgânica é claro!)
Um vegetal processado pela indústria é pobre em vida, pois através de métodos dos mais perversos, são retirados aqueles componentes essenciais, para que depois sejam enriquecidos com “muitas vitaminas e minerais” nos fazendo pensar que está tudo ok abrir uma embalagem e comer.
Pois bem, esse processamento elimina qualquer resquício de micro-organismos que poderiam nos ajudar, além de expor o nosso intestino a aditivos que já se sabe, destroem o nosso microbioma (que já não está lá aquelas coisas, com tantos antibióticos que usamos).
Moral da história: pare de dizer que alimentos orgânicos são muito caros. Eles são literalmente fontes de vida, e estes agricultores e agriculturas que os produzem merecem nosso respeito e admiração!
Fontes consultadas:
Healthy soils for healthy plants for healthy humans. 2020.
Does Soil Contribute to the Human Gut Microbiome?. 2019.
Organic versus conventional beetroot. Bioactive compounds and antioxidant properties. 2019.
Advances of organic products over conventional productions with respect to nutritional quality and food security. 2018.
The nutritional value and vitamin C content of different raspberry cultivars from organic and conventional production. 2020.
Wikipédia: Projeto Microbioma Humano.
Liliane Grein Beuther
Nutricionista – CRN10 2585
Mestranda do Programa de Ciência e Tecnologia Ambiental da Univali de Itajaí
É FÁCIL COMER BEM!
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